domingo, 20 de março de 2011

MORTINHA POR UMA HISTÓRIA COM FIM ...


As sílabas soltam-se das palavras e formam um labirinto com sombras, permanentemente mudas, na ânsia de um adeus póstumo. Não, não há palavras assim! 

Fuma mais um cigarro que eu não conto porquê. Apaga a luz ao sair, quero desligar-me no escuro. Foi o que disse a saudade, ocupada em nascer e morrer, num silêncio que quase cala as palavras forradas de sílabas verdes. Não, não há palavras assim! 

Na metamorfose do nada, verde foi também o reflexo do teu olhar no meu. Quis-te com o medo de tudo ser impossível e ganhei. Há vitórias assim! 

Por vezes sinto esta vontade estranha de fazer minutos infindáveis de silêncio, por mim. Por vezes deixo os minutos intactos e olho o teu casaco sobre o meu. Há abraços assim! 

No desalento morri ontem, estou tão cansada! Quero uma história de amor com princípio meio e fim. Há histórias assim! 

Sou feita de momentos, quero lágrimas na despedida, uma ausência não me basta. 

E depois existem aqueles dias em que não mudava nada, mesmo que pudesse desacreditar… o importante era sermos felizes naquele dia. 

Passei a ser no singular …


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domingo, 6 de março de 2011

MORTINHA NUMA PRETENSÃO ...




O silêncio não é inocente, produz ecos que não consigo ler. 
Pessoas feitas como peças de lego que não encaixam. 
Encaixo-me no dia de hoje. 

Rejeito o café, mordo o pau de canela. 

Diariamente finjo que caí, mas estou em pé! 

Sanidade à beira do abismo, quero subir ao alto da montanha e soltar a noite. 
Quero um encontro de amigos que ficam pela noite dentro, em pijama, a conversar e a beber chá. 
Estou sozinha nessa pretensão. Paciência! 

Lamento profundamente quem sabe como deve ser e depois não é. 

Já não imagino uma mão a segurar a minha. 
Estou só, parece-me… 
Ideia marginal como uma estrada. 

O carteiro passa num aceno de quem já não entrega cartas de amor. 

Peço um café curto e escaldado para mexer com uma colher de metal. 
Fico parada, nesse intervalo, a ouvir-me respirar. 

O carteiro passa e volta a acenar, digo-lhe adeus também…



sábado, 5 de março de 2011

MORTINHA POR VELAR ...





Dispo a túnica de linho branco, sinto salpicos de mar matematicamente inoportunos. Divido-me em capítulos, reservo um para ti que conservo em câmara lenta. Gesto de quem alucina porque o normal já não me basta. 
Numa linguagem própria de quem sabe que chega para além de um prazo razoavelmente traduzível, mergulho nas ondas imprevistas e num gesto de estátua que não sabe morrer, salvo a palavra que caiu no vácuo sem promessa. Mas já era tarde! 
Velam-se os gritos que estão vivos porque respiram. Agora tenho todo o tempo do mundo para inventar vírgulas que sepulto na região demarcada do verbo amar. Há que ter em conta que tudo pode ser em vão. Assim sendo acendo um cigarro e incendeio a saudade. 

Os distúrbios das letras intelectuais circundantes… 

… Nem eu sei porque escrevo assim!