sábado, 30 de outubro de 2010

MORTINHA POR FINGIR ...



Se eu não sei ser dia e o dia não me sabe ter, fixo-me na margem da noite. Invento fantasmas tristes e gritos a preto e branco, com laivos de ausente lucidez. Aprendo que o silêncio não tem cor, a saudade pintou-o de transparente. 
Vou gritando, por aí, risos em forma de pensamentos que devolvo a um desconhecido e desenho um coração em forma de ponto final. E é a isto que me entrego, desalinhada de respostas, sendo as perguntas salgadas, porque doeu o meu adeus, a quem não sabe ser triste. 
Oculto na sombra do vento, alguém me disse baixinho: fica comigo esta noite! – Não me lembro se fiquei…
 

E quando a saudade bate à porta, eu finjo-me de morta, para a saudade não entrar. E quando a solidão bate à porta, eu finjo-me de viva e deixo a solidão entrar...

sábado, 16 de outubro de 2010

MORTINHA POR DECLARAR ,,,



Tudo no sentido retrógrado, contrariando o tempo, o esquecimento, ao som da musica, brindamos ao silencio, ao relento que é só nosso, o beijo e o abraço traduzidos num
E lá fora tudo continua igual... tudo reduzido à figura abstracta, como telhados semeados de pássaros esvoaçantes. E eu, tu e a nuvem negra que toldou a luz do dia.

Gotas d'água escorreram desse toldo, nem tu... nem eu ... só nós... e a chuva que não pára ... e a dança também não... a magia sim. Um rastro de realidade devolvido pelo vento define a linha ténue! Esvoaça a dança, aninham-se os pássaros. São beirais os telhados, semeia-se o querer!

Muito baixinho deslizo para uma imobilidade sem retorno;
aguardo ansiosa, não sei se o telefone ... quando souber digo!

E um carro parado, de cor azul, azul da cor do pó que a chuva lavou, continua parado … as janelas inertes, persianas corridas, meio abertas… meio fechadas, ou talvez não! Tem cor o pó? – É azul… e o relento também. Digo eu num diálogo a duas sombras… eu e tu e nos também e o vizinho do lado que chora baixinho, porque ela não volta.

Que temos nós a ver com isso? Eu também não, mas apeteceu-me, simplesmente porque sei lá…

É no ontem que vamos colher os momentos semeados e continuamos a dizer até amanhã, até logo, até depois e nunca até ontem… porque um amo-te implica um eu também… porque sim repito eu: porque sim…

E continuo por aí, desabitada de olhares vagos, recolhendo beijos deixados no tempo, prendendo abraços mesmo assim …



…na minha qualidade de imagem desenhada de irreal, que dedos tocam ao sabor da imaginação, é nesses afectos que me perco e encontro, para voltar a sumir diluída no fumo das palavras queimadas… que o pensamento queimou.


Transfiro-me definitivamente para o lado de acolá, sem nada a declarar. E em papel timbrado registo o abraço igual ao timbre, para que seja eterno enquanto dure … falo do abraço!


MORTINHA POR DECIDIR ...



Não sei se compareci... se desapareci. Não sei muito bem de mim! Estou por aí e por aqui em parte alheia... não sei se me perdi... sinto que não estou aí, que queria que estivesses aqui e me esperasses e me dissesses as palavras que escuto aqui... num silencio que não ouvi. 

E se me esperares aí eu gosto, se me esperares aqui eu quero e ter-te comigo também... dizermos olá a este limite que não conheço... onde me perco ou desapareço … 
para me voltar a encontrar e vir ao encontro de ti... porque estejas onde estiveres, estás sempre no lado de lá de aí... 

Ainda é tão cedo e eu tão atrasada! Confirmo as estrelas através da janela de um luar qualquer. E eu estou tão alto e as estrelas estão mais alto, olho para baixo e vejo estrelas também, chamam-lhes luzes, mas são estrelas... só porque eu quero, só porque gosto e a elas lhes apetece também, porque as estrelas têm gosto e gostam de mim porque eu sei! 

Tenho de ir e imaginar-te à minha espera numa estação de comboios a definir, só para me dares um abraço...sem dizer nada... só para me veres chegar e eu ter a ilusão de que não me queres ver partir... até porque eu também não quero ir... 

Mas vou, depois regresso, não sei se a horas de mim! 
Estou de saída ou de partida, a mala feita anuncia... não sei se saia se parta...sei que quero regressar... não sei é para onde dirigir o regresso...se para o sítio para onde vou, se para o sítio de onde parto... Não sei, se sei, muito bem onde estou,... muito menos para onde vou... 

Chove lá fora baixinho... quero chover também! 

Não sei se parta se vá... quem me ajuda a decidir... Tenho um desejo … Se eu pudesse, simplesmente, ficar a ver-me partir... 

E tu no lado de lá… 

Darei notícias de mim, do regresso em suspenso. Darei o beijo que não te dei... e os que ficaram por dar. 
Levo comigo o que é meu... o abraço que me deste... e que eternizei em mim... Inventei-te numa estação... e é para lá que eu vou... 

Gosto, assim, em doses suaves, de sítios, … pessoas,... … luares e algures; de ti... inventado por mim!

sábado, 9 de outubro de 2010

MORTINHA POR RESPONDER ...




Meu querido …

Ainda há pouco estive a falar consigo e aqui estou novamente para lhe falar.
Eu disse-lhe que sou uma pessoa limitada, porque não consigo “suportar demasiada realidade”.
 Pediu-me que lhe escrevesse e estou a fazê-lo. Difícil é decidir como começar e o que dizer. Parto de uma premissa: tudo o que dissemos um ao outro é verdade. Ainda que mais não seja pertence, no mínimo, ao domínio da verdade contido nas palavras, entendendo estas como podendo ou não descrever a realidade dos factos. Isto é, as palavras ditas valem como ou pela realidade que contêm. Logo eu acredito naquilo que ouvi. . . No fundo, porque estou consciente das dificuldades inerentes a todos os tipos de relações interpessoais, vivo,  “a tensão agónica entre a busca de segurança afectiva e de liberdade pessoal e poética”. Eu preciso de afecto – estou a morrer de vontade de ser amada – mas não consigo prescindir da minha liberdade pessoal. Por isso não ousei falar em compromisso (embora quisesse), em relação estável (eu queria) em… eu falei apenas em viver uma história de amor, pois toda a gente sabe que é próprio de uma história ter um princípio, um meio e um fim (por muito que custe).
Disto tudo, fique o que ficar, aconteça o que acontecer, registarei para sempre que um homem desconhecido, por um momento, me incluiu na sua vida e no seu futuro com o objectivo de me fazer feliz. E é tudo, meu querido, estou aqui, estou a chorar. De qualquer modo tenho-o sempre a si. Como diziam os outros no filme Casablanca, “teremos sempre Paris”.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

MORTINHA POR PROSSEGUIR ...


 



Três meses foram quanto durou a magia da tua ausência.
Eu sei que não é fácil resistir à tentação de me resistir. Mas há sempre que ter o cuidado de não vulgarizar uma situação por dá cá aquela palha.
E agora que faço contigo se não te quero! - E para que te quereria se não ficou nada por dar ou receber? – Acabámos e até acabamos bem! Fizemos amor, jantámos e despedimo-nos com um beijo. Isso é acabar bem! Agora o que faço contigo se não me apetece sequer ver, ouvir-te, saber que existes. Não me maces, eu sou bem resolvida. Achei lindo teres aparecido do nada e teres desaparecido no nada. Todos os nossos momentos foram bons. Não bastou para ti. Tens de me ouvir dizer que não quero mais nada contigo. Ridículo, ridículo e banal. Só espero que não te atires para o chão a espernear enquanto gritas, não me deixes, não me deixes. Seria o cúmulo. Mas com a desilusão do teu reaparecimento já espero tudo.
Todos somos descartáveis, eu própria! Temos de saber lidar com esse estatuto. Sermos receptivos a emoções novas.
Deus me livre projectar-me numa pessoa para todo o sempre. Eu quero andar de nenúfar em nenúfar, tendo sempre o cuidado de não o ver murchar. Mais tarde, se por acaso o recordar, é uma imagem bonita que ficou retida.
Fazer amor, jantar à luz das velas, um beijo na despedida…
Isso é acabar bem! Não me maces, meu amor …