sábado, 9 de outubro de 2010

MORTINHA POR RESPONDER ...




Meu querido …

Ainda há pouco estive a falar consigo e aqui estou novamente para lhe falar.
Eu disse-lhe que sou uma pessoa limitada, porque não consigo “suportar demasiada realidade”.
 Pediu-me que lhe escrevesse e estou a fazê-lo. Difícil é decidir como começar e o que dizer. Parto de uma premissa: tudo o que dissemos um ao outro é verdade. Ainda que mais não seja pertence, no mínimo, ao domínio da verdade contido nas palavras, entendendo estas como podendo ou não descrever a realidade dos factos. Isto é, as palavras ditas valem como ou pela realidade que contêm. Logo eu acredito naquilo que ouvi. . . No fundo, porque estou consciente das dificuldades inerentes a todos os tipos de relações interpessoais, vivo,  “a tensão agónica entre a busca de segurança afectiva e de liberdade pessoal e poética”. Eu preciso de afecto – estou a morrer de vontade de ser amada – mas não consigo prescindir da minha liberdade pessoal. Por isso não ousei falar em compromisso (embora quisesse), em relação estável (eu queria) em… eu falei apenas em viver uma história de amor, pois toda a gente sabe que é próprio de uma história ter um princípio, um meio e um fim (por muito que custe).
Disto tudo, fique o que ficar, aconteça o que acontecer, registarei para sempre que um homem desconhecido, por um momento, me incluiu na sua vida e no seu futuro com o objectivo de me fazer feliz. E é tudo, meu querido, estou aqui, estou a chorar. De qualquer modo tenho-o sempre a si. Como diziam os outros no filme Casablanca, “teremos sempre Paris”.

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