terça-feira, 23 de agosto de 2011

MORTINHA POR ACORDAR ...






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Preparo-me para o luto, acendo previamente todas as velas que formam o percurso até mim. Não sei se há luto para o inacabado! 

Primeiro morrem os sonhos, depois é o silêncio que fala como um eco que retorna em desejo de ser voz. 
Cansada de acordar periodicamente, olho o espelho que reflecte a indiferença de mim... reflecte a figura que ficou decidido inventar. 

Terei sempre o esquecimento... que conduz à reconciliação, terei sempre um momento para sublinhar, terei sempre a noite e a noite é o meu lugar para permanecer. 

Eu não sei se é a morte que pousa na minha sombra! 
Pelas vezes que morri, pelas vezes que me ergui, ergue-se a lua em forma de boa pessoa e chora sob o meu nome... 

Penitência de um ser anónimo, é aí que me visto de cinzas …




quinta-feira, 14 de julho de 2011

MORTINHA POR FICAR ...






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Os dias já não têm horas, forma, tamanho e corPermanecem sozinhos, 
como se estivessem vivos… 

Tenho palavras a morrerem-me nas mãos. 

Arrumadas, as letras, 
numa folha de papel branco, 
trilham o caminho, 
sabedoras do final do recomeço. 

Não as acompanho, valorizo o suspense. 

Quero uma lua cheia para me esconder. 

Quero acreditar... 

que tudo pode ser para sempre !!!


quinta-feira, 23 de junho de 2011

MORTINHA POR MORRER NOVA ...



É nossa sina ser invisível! Dito isto, vestiu a cor negra da ausência e num trejeito de quem não quer companhia e sim presença, apagou a luz e ficou transparente como um pensamento. 

Ela queria morrer nova, ninguém a ensinou a morrer, viver também não sabia, nem nunca quis aprender. 
O tempo não é pensável, há que viver até à morte. 

Pegou no telefone para falar com o DES (sigla). Ocorreu-lhe participar um ritual que gostaria de ver cumprido, caso morresse por antecipação. 

Era fácil falar com o DES, bastava pedir-lhe que a ouvisse em silêncio e ele deixava-a falar sem interromper. Pegava-lhe na mão também! 

O melhor seria falar com ele pessoalmente, precisava da segurança que a mão forte do DES lhe transmitia. Ligou-lhe nesse sentido. 

Acendeu a luz e a transparência fundiu-se na sombra, o pensamento nas palavras que iria partilhar com o DES: Queria velas em vez de flores, ir vestida de branco, ser sepultada à noite e … 

Depois continuo, tenho de abrir a porta. É o DES… certamente !!!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

MORTINHA POR PARTIR ...

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Apertei os sapatos em ritmo de Adeus. Parto em passo planado, com o sol em poente, reivindico uma gaivota como complemento de paisagem. Só depois me afasto, sem carácter de urgência. 
Vestida de preto, com salpicos de silêncio e um apontamento a designar, levo nas mãos acenos gastos à força de tanto serem usados. Remeto-as à inercia! 
Pela primeira vez não olho para trás num gesto póstumo. 
Há "nós" e laços, há agora um projecto de consciência em ruína. 

Atirei, como uma noiva, um ramo de crisantemos. Lamento imenso se alguém o apanhou...
 

segunda-feira, 16 de maio de 2011




Vesti a mesma roupa que tinha usado há um ano atrás. Ainda me serve, pensei, receio sempre ter engordado. 
Fui trabalhar, todos estranharam não estar vestida de preto. Faltei às aulas, estranharam certamente, foi a primeira vez. Tinha um encontro marcado no Parque das Nações, às 19.30 precisamente. Não falhei! 
À hora marcada ali estava eu a tomar café comigo e na mesma esplanada de há um ano. Só não tinha ninguém a ocupar o lugar em frente ao meu. E foi com ninguém que jantei no restaurante onde tinha jantado gratamente acompanhada. 
Para cumprir o ritual tinha de ir para a rua e percorrer o mesmo circuito, correndo o risco de me perder, como só eu me sei perder, naquelas ruas distintas, mas que sempre me parecem iguais. Iguais permaneciam as estrelas que tinha inventado há um ano atrás. “ O olhar descobriu estrelas que só existem nos teus olhos.” Disse-me o meu amor, agora ausente, deixando o meu lado esquerdo vago e a saudade do abraço que só ele sabia dar. 
Não me permiti ficar triste. Decididamente o amor dá muito trabalho. Está muito além da minha capacidade de aguentar a rejeição. 
Era quase meia-noite. Também o tempo desta vez voara. Pudera, reproduzi todas as situações o mais fielmente que a minha memória conseguiu reter. Ainda que o meu lado esquerdo permanecesse vazio senti-me sempre acompanhada, abraçada, mimada. Ninguém se meteu comigo, talvez por perceberem que eu afinal não estava só. 
Meia-noite, tinha de ir embora. Assegurei que não perderia nenhum sapato, tipo cinderela, a última coisa que queria era um príncipe desesperado atrás de mim. 
Não era hora de ir para casa, só às três e meia da manhã. Tinha esgotado a resistência à copia fiel do dia que queria homenagear. Implicaria ir sozinha para a beira-mar, não tinha capacidade para tanto. 
Um bar em Sintra foi a opção. Conhecia o ambiente saudável e o barman. Escolhi a mesa mais isolada. Queria manter o meu lado esquerdo vazio, insubstituível, ninguém teria essa capacidade. 
Música dos “Nirvana”. Lindo ! Come as you are…as you were…as I want you to me… a s a friend…take your time…take your breath ( ? )… As I want you to be/me ( ? )… o Kurt Cobain já morreu, já fez o que tinha a fazer e retirou-se de cena ou melhor de palco. Os que estamos vivos ainda temos essa parte maçadora para cumprir. 
Veio-me à memória que esquecera de comprar queijo Brie e a revista Visão. 
Tinha um sujeito à minha frente, dei com ele a mover a cabeça de forma demencial com risco de bater com a dita na parede. Antes a dele de que a minha. Por cima de mim , a música escorria, derramava-se agradável. Á minha frente, com um copo na mão à laia de brinde uma “coisa” insinua sentar-se ao meu lado. Recuso-lhe a intenção alegando que quero estar sozinha e ele diz que também não pretende fazer-me companhia, aquela é a mesa habitual dele. Se eu quiser permanecer ele até nem se importa, desde que me mantenha calada. 
Nem me indignei, ocupou o lado direito e eu mantive-me fiel a quem não tinha no meu lado esquerdo. A “coisa” começou a falar, chamava-se Nuno ( tenho para mim que ainda se deve chamar). Portador de uma voz lindíssima e um discurso fluido. Tinha um ar agradável, demasiado agradável para o que a minha estabilidade emocional conseguia suportar. Imaginei-me passado um ano, ali no mesmo lugar, com a nostalgia do lado direito vago. 
Levantei-me, paguei, saí resistindo ao impulso de olhar para trás. 
Fui para casa. Chorei e vesti-me de preto, fiel a uma espécie de luto que paira sobre mim …

MORTINHA POR NÃO ME IMPORTAR ...





Como quem cala meias verdades e houve falsas mentiras há uma vida que colecciona vidas e já não conta histórias de pasmar. 
Sonâmbula, liberta, perfumada, género feminino (gaja), número singular (infinito) e numa reprimida indiferença, recolho as mensagens caídas no chão. 
No código dos risos permaneci como se fosse ontem. Seduzo a sombra do que fui, as barreiras são surdas. O tempo espelha o presente, o futuro, esquece a cópia do passado. Uma metáfora camuflada, sob a folha murcha de uma biografia que revela uma leitura inacabada. 
Cresce a consciência do renascer, talvez um dia eu não me importe de ouvir a porta bater. 
Talvez um dia eu não me importe que não se levantem para me receber. Gestos que tropeçam na indiferença, sem contorno de acção, porque já não importa agradar. 
Talvez um dia eu não me importe de recolher pedacinhos de mim e formar o puzzle que constrói o destino. 
Talvez um dia eu não me importe de ignorar palavras mudas, caladas por quem não soube corresponder, nem compreender as mesmas palavras que se queriam correctas. 
Quando olho para trás, afinal estava infeliz e não sabia… 

Ele, género masculino numero (muito… muito) singular!

MORTINHA POR DIAS ASSIM ...




E o telefone  que não toca, mas em que eu toco... na tentativa, vã, de o contrariar... 

A morte de um sonho é tão triste como a própria morte, merece, por isso, respeito, funeral e missa de sétimo dia. 

O silencio e o tempo... o tempo rejeito... não quero ter tempo! 

Gosto de dias assim, vazios, despidos... dias que não são dias!

MORTINHA PElO MEU ESPANTALHO ...

 


Proporcionalmente às coisas de que realmente gosto, gosto de menos coisas. Gosto de burros, abraços, 
cemitérios, de ti, de mim, etecétera e tal, mas isso já toda a gente sabe. O que pouca gente sabe, e digo pouca porque há alguém que sabe, é que gosto de espantalhos. Não me refiro aos espantalhos que abrilhantam e se cruzam connosco no nosso dia-a-dia. Esses respeito, naturalmente, senão pouca gente sobraria para respeitar e eu gosto de sentir que respeito muito. Refiro-me, mesmo, àqueles espantalho das hortas com cabelos de palha e vestidos de roupas velhas e quanto mais velhas melhor, um espantalho de smoking duvido que me causasse o mesmo efeito. Claro que não consigo explicar este meu fascínio pelos ditos, como também não consigo explicar porque é que eu acreditava em tapetes voadores, enquanto os outros miúdos acreditavam no pai Natal. 
O objectivo dos espantalhos é afugentar os passarinhos, mas espantalho que se preze tem sempre os braços a servir de poleiro para os mesmos. Daí os espantalhos já não abundarem como outrora. Foram substituídos por uma espécie de ventoinhas que fazem tictac. 
Os espantalhos que abrilhantam e se cruzam connosco, são insubstituíveis, continuam com falinhas mansas, trajam de gala e acalentam a esperança que façamos do cinismo deles o nosso poleiro. 
Em homenagem aos espantalhos, de que realmente gosto, com cabelo de palha e vestidos de roupas quanto mais velhas melhor, peguei num e coloquei-o no lado de lá da porta, não é que os passarinhos me incomodem, é uma espécie de amuleto com o intuito de me proteger de mal intencionados. E confesso que resulta! Passei a ser vista como demente, logo um alvo a evitar. É o mundo em que vivemos, só a demência é que nos salva. Como os opostos se atraem, nada como fingir demência para repelir a mesma. 

Agora vou, tenho mais um espantalho, com cabelo de palha, vestido de roupas muito velhas e de braços muito abertos para me servir de poleiro…

MORTINHA POR DECORAR ...




Trágico o ritmo do meu sorriso lado a lado com sombras e recuos. Sortilégio abalado pelo chão onde me folheio. 

Rejeito um cenário de cores como quem rejeita a verdade crua, encurralada num grito. 

Neste contento descontente de permitir o que não basta, sendo que não me sei sentir só na solidão da partilha, são salgadas as horas… é concreto o vislumbre da evidência resumida no gesto que não chegou a ser. 

Lapidada ou moldada, deslizante como um lápis que se quer de carvão, vou desenhando passagens e sem fugir apago as pegadas quando penso para onde vou. 

Não adianta perguntar! Nem eu sei se cheguei, muito menos se ainda estou. 

Ninguém sabe de cor a cor da minha ausência…

MORTINHA POR ENCANTAR ...












Brindo ao desencanto, mais ou menos, refugio-me na figura que um defunto plagiou, sopro a vela, atiço a fogueira e a paixão continua medíocre. 

No vazio da distância suspendo-me pela causa de um gesto oferecido e a meia-noite permanece intacta, o meio da noite também. Pretendo atrasar-me, digo eu, e anuncio o espanto. Num socorro sem alivio, corro só, como quem se esgota na despedida e despida permanece, mas de distância, sendo assim ainda não chorou de saudade quem se fez de contente. Assim sendo volto a anunciar o espanto, só que tenho uma falta de jeito… 

Com quantos gestos de indiferença se destrói a velha nota de rodapé onde foi escrito “para sempre…” 

E depois há uma voz rouca que me chama, talvez queira saber a quem pertence, mas não ainda!

domingo, 20 de março de 2011

MORTINHA POR UMA HISTÓRIA COM FIM ...


As sílabas soltam-se das palavras e formam um labirinto com sombras, permanentemente mudas, na ânsia de um adeus póstumo. Não, não há palavras assim! 

Fuma mais um cigarro que eu não conto porquê. Apaga a luz ao sair, quero desligar-me no escuro. Foi o que disse a saudade, ocupada em nascer e morrer, num silêncio que quase cala as palavras forradas de sílabas verdes. Não, não há palavras assim! 

Na metamorfose do nada, verde foi também o reflexo do teu olhar no meu. Quis-te com o medo de tudo ser impossível e ganhei. Há vitórias assim! 

Por vezes sinto esta vontade estranha de fazer minutos infindáveis de silêncio, por mim. Por vezes deixo os minutos intactos e olho o teu casaco sobre o meu. Há abraços assim! 

No desalento morri ontem, estou tão cansada! Quero uma história de amor com princípio meio e fim. Há histórias assim! 

Sou feita de momentos, quero lágrimas na despedida, uma ausência não me basta. 

E depois existem aqueles dias em que não mudava nada, mesmo que pudesse desacreditar… o importante era sermos felizes naquele dia. 

Passei a ser no singular …


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domingo, 6 de março de 2011

MORTINHA NUMA PRETENSÃO ...




O silêncio não é inocente, produz ecos que não consigo ler. 
Pessoas feitas como peças de lego que não encaixam. 
Encaixo-me no dia de hoje. 

Rejeito o café, mordo o pau de canela. 

Diariamente finjo que caí, mas estou em pé! 

Sanidade à beira do abismo, quero subir ao alto da montanha e soltar a noite. 
Quero um encontro de amigos que ficam pela noite dentro, em pijama, a conversar e a beber chá. 
Estou sozinha nessa pretensão. Paciência! 

Lamento profundamente quem sabe como deve ser e depois não é. 

Já não imagino uma mão a segurar a minha. 
Estou só, parece-me… 
Ideia marginal como uma estrada. 

O carteiro passa num aceno de quem já não entrega cartas de amor. 

Peço um café curto e escaldado para mexer com uma colher de metal. 
Fico parada, nesse intervalo, a ouvir-me respirar. 

O carteiro passa e volta a acenar, digo-lhe adeus também…



sábado, 5 de março de 2011

MORTINHA POR VELAR ...





Dispo a túnica de linho branco, sinto salpicos de mar matematicamente inoportunos. Divido-me em capítulos, reservo um para ti que conservo em câmara lenta. Gesto de quem alucina porque o normal já não me basta. 
Numa linguagem própria de quem sabe que chega para além de um prazo razoavelmente traduzível, mergulho nas ondas imprevistas e num gesto de estátua que não sabe morrer, salvo a palavra que caiu no vácuo sem promessa. Mas já era tarde! 
Velam-se os gritos que estão vivos porque respiram. Agora tenho todo o tempo do mundo para inventar vírgulas que sepulto na região demarcada do verbo amar. Há que ter em conta que tudo pode ser em vão. Assim sendo acendo um cigarro e incendeio a saudade. 

Os distúrbios das letras intelectuais circundantes… 

… Nem eu sei porque escrevo assim!
 

sábado, 29 de janeiro de 2011

MORTINHA POR APAGAR ...



Hoje faço luto pela morte antecipada do que queria dizer em voz alta. Choro pelas conversas que perderam a oportunidade de acontecer. Há tanto para calar ou contar! Palavras registadas no óbito, sem certidão, mascaradas de nexo.
À laia de brinde estilhaço o flute sem champanhe, dispo o papel de cetim e embrulho-me em papel pardo, tendo o cuidado de dispensar o laço.
Hoje quero-me burraaa!!! Nem sempre me apetece ser inteligente, interessante, sensata, simpática, … a sensualidade tenho-a na alma que sento na sombra do pecado. Mas só hoje!
Da minha silhueta resta só a fotocópia. As palavras já não têm o teu nome, os sussurros ofegantes também não. Que se degrade o intelecto, tenho perguntas para arrumar.

Alta, elegante, vestida de preto, pareces um risco na paisagem!

É um risco que quero parecer, para depois apagar …

Não digas nada!