quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

MORTINHA POR PARTIR ...






Aqui e agora... na hora sensata, em que as palavras adquirem forma mutilada, porque o silencio naufragou, foi a indiferença que se salvou. 

O amanhã adiou pedaços de insónia e da palidez não restou nada. 
Brinda-se à alegria, em forma de luto, quando se inventa o que lamentar. 

Eu mantanho-me estática, não vá morrer de riso. 

Aqui e agora... asfixio o som da ausencia, da realidade emprestada. 
Vou na direcção oposta, em troca de sonhos incompletos, no intervalo peregrino de quem estilhaça as memórias. 

Há sempre um ponto de partida para deitar tudo a perder. 

Ergo a quietude e a fuga, numa disputa em competição. 
Doce armadilha forrada de adeus, foi aí que brindei e quis mesmo morrer de riso. 

Aqui e agora... quero apenas fingir-me de morta, em forma de corpo presente e sempre fiel à minha cópia. 

Partiria sempre... mesmo que não fosse necessário!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

MORTINHA POR ACORDAR ...






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Preparo-me para o luto, acendo previamente todas as velas que formam o percurso até mim. Não sei se há luto para o inacabado! 

Primeiro morrem os sonhos, depois é o silêncio que fala como um eco que retorna em desejo de ser voz. 
Cansada de acordar periodicamente, olho o espelho que reflecte a indiferença de mim... reflecte a figura que ficou decidido inventar. 

Terei sempre o esquecimento... que conduz à reconciliação, terei sempre um momento para sublinhar, terei sempre a noite e a noite é o meu lugar para permanecer. 

Eu não sei se é a morte que pousa na minha sombra! 
Pelas vezes que morri, pelas vezes que me ergui, ergue-se a lua em forma de boa pessoa e chora sob o meu nome... 

Penitência de um ser anónimo, é aí que me visto de cinzas …




quinta-feira, 14 de julho de 2011

MORTINHA POR FICAR ...






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Os dias já não têm horas, forma, tamanho e corPermanecem sozinhos, 
como se estivessem vivos… 

Tenho palavras a morrerem-me nas mãos. 

Arrumadas, as letras, 
numa folha de papel branco, 
trilham o caminho, 
sabedoras do final do recomeço. 

Não as acompanho, valorizo o suspense. 

Quero uma lua cheia para me esconder. 

Quero acreditar... 

que tudo pode ser para sempre !!!


quinta-feira, 23 de junho de 2011

MORTINHA POR MORRER NOVA ...



É nossa sina ser invisível! Dito isto, vestiu a cor negra da ausência e num trejeito de quem não quer companhia e sim presença, apagou a luz e ficou transparente como um pensamento. 

Ela queria morrer nova, ninguém a ensinou a morrer, viver também não sabia, nem nunca quis aprender. 
O tempo não é pensável, há que viver até à morte. 

Pegou no telefone para falar com o DES (sigla). Ocorreu-lhe participar um ritual que gostaria de ver cumprido, caso morresse por antecipação. 

Era fácil falar com o DES, bastava pedir-lhe que a ouvisse em silêncio e ele deixava-a falar sem interromper. Pegava-lhe na mão também! 

O melhor seria falar com ele pessoalmente, precisava da segurança que a mão forte do DES lhe transmitia. Ligou-lhe nesse sentido. 

Acendeu a luz e a transparência fundiu-se na sombra, o pensamento nas palavras que iria partilhar com o DES: Queria velas em vez de flores, ir vestida de branco, ser sepultada à noite e … 

Depois continuo, tenho de abrir a porta. É o DES… certamente !!!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

MORTINHA POR PARTIR ...

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Apertei os sapatos em ritmo de Adeus. Parto em passo planado, com o sol em poente, reivindico uma gaivota como complemento de paisagem. Só depois me afasto, sem carácter de urgência. 
Vestida de preto, com salpicos de silêncio e um apontamento a designar, levo nas mãos acenos gastos à força de tanto serem usados. Remeto-as à inercia! 
Pela primeira vez não olho para trás num gesto póstumo. 
Há "nós" e laços, há agora um projecto de consciência em ruína. 

Atirei, como uma noiva, um ramo de crisantemos. Lamento imenso se alguém o apanhou...
 

segunda-feira, 16 de maio de 2011




Vesti a mesma roupa que tinha usado há um ano atrás. Ainda me serve, pensei, receio sempre ter engordado. 
Fui trabalhar, todos estranharam não estar vestida de preto. Faltei às aulas, estranharam certamente, foi a primeira vez. Tinha um encontro marcado no Parque das Nações, às 19.30 precisamente. Não falhei! 
À hora marcada ali estava eu a tomar café comigo e na mesma esplanada de há um ano. Só não tinha ninguém a ocupar o lugar em frente ao meu. E foi com ninguém que jantei no restaurante onde tinha jantado gratamente acompanhada. 
Para cumprir o ritual tinha de ir para a rua e percorrer o mesmo circuito, correndo o risco de me perder, como só eu me sei perder, naquelas ruas distintas, mas que sempre me parecem iguais. Iguais permaneciam as estrelas que tinha inventado há um ano atrás. “ O olhar descobriu estrelas que só existem nos teus olhos.” Disse-me o meu amor, agora ausente, deixando o meu lado esquerdo vago e a saudade do abraço que só ele sabia dar. 
Não me permiti ficar triste. Decididamente o amor dá muito trabalho. Está muito além da minha capacidade de aguentar a rejeição. 
Era quase meia-noite. Também o tempo desta vez voara. Pudera, reproduzi todas as situações o mais fielmente que a minha memória conseguiu reter. Ainda que o meu lado esquerdo permanecesse vazio senti-me sempre acompanhada, abraçada, mimada. Ninguém se meteu comigo, talvez por perceberem que eu afinal não estava só. 
Meia-noite, tinha de ir embora. Assegurei que não perderia nenhum sapato, tipo cinderela, a última coisa que queria era um príncipe desesperado atrás de mim. 
Não era hora de ir para casa, só às três e meia da manhã. Tinha esgotado a resistência à copia fiel do dia que queria homenagear. Implicaria ir sozinha para a beira-mar, não tinha capacidade para tanto. 
Um bar em Sintra foi a opção. Conhecia o ambiente saudável e o barman. Escolhi a mesa mais isolada. Queria manter o meu lado esquerdo vazio, insubstituível, ninguém teria essa capacidade. 
Música dos “Nirvana”. Lindo ! Come as you are…as you were…as I want you to me… a s a friend…take your time…take your breath ( ? )… As I want you to be/me ( ? )… o Kurt Cobain já morreu, já fez o que tinha a fazer e retirou-se de cena ou melhor de palco. Os que estamos vivos ainda temos essa parte maçadora para cumprir. 
Veio-me à memória que esquecera de comprar queijo Brie e a revista Visão. 
Tinha um sujeito à minha frente, dei com ele a mover a cabeça de forma demencial com risco de bater com a dita na parede. Antes a dele de que a minha. Por cima de mim , a música escorria, derramava-se agradável. Á minha frente, com um copo na mão à laia de brinde uma “coisa” insinua sentar-se ao meu lado. Recuso-lhe a intenção alegando que quero estar sozinha e ele diz que também não pretende fazer-me companhia, aquela é a mesa habitual dele. Se eu quiser permanecer ele até nem se importa, desde que me mantenha calada. 
Nem me indignei, ocupou o lado direito e eu mantive-me fiel a quem não tinha no meu lado esquerdo. A “coisa” começou a falar, chamava-se Nuno ( tenho para mim que ainda se deve chamar). Portador de uma voz lindíssima e um discurso fluido. Tinha um ar agradável, demasiado agradável para o que a minha estabilidade emocional conseguia suportar. Imaginei-me passado um ano, ali no mesmo lugar, com a nostalgia do lado direito vago. 
Levantei-me, paguei, saí resistindo ao impulso de olhar para trás. 
Fui para casa. Chorei e vesti-me de preto, fiel a uma espécie de luto que paira sobre mim …

MORTINHA POR NÃO ME IMPORTAR ...





Como quem cala meias verdades e houve falsas mentiras há uma vida que colecciona vidas e já não conta histórias de pasmar. 
Sonâmbula, liberta, perfumada, género feminino (gaja), número singular (infinito) e numa reprimida indiferença, recolho as mensagens caídas no chão. 
No código dos risos permaneci como se fosse ontem. Seduzo a sombra do que fui, as barreiras são surdas. O tempo espelha o presente, o futuro, esquece a cópia do passado. Uma metáfora camuflada, sob a folha murcha de uma biografia que revela uma leitura inacabada. 
Cresce a consciência do renascer, talvez um dia eu não me importe de ouvir a porta bater. 
Talvez um dia eu não me importe que não se levantem para me receber. Gestos que tropeçam na indiferença, sem contorno de acção, porque já não importa agradar. 
Talvez um dia eu não me importe de recolher pedacinhos de mim e formar o puzzle que constrói o destino. 
Talvez um dia eu não me importe de ignorar palavras mudas, caladas por quem não soube corresponder, nem compreender as mesmas palavras que se queriam correctas. 
Quando olho para trás, afinal estava infeliz e não sabia… 

Ele, género masculino numero (muito… muito) singular!