segunda-feira, 27 de setembro de 2010

MORTINHA POR UM MOMENTO ASSIM ...










Há momentos assim … que acontecem sem saber porquê! 

Em que se dizem coisas lindas, sem sentido ... 

válidas para o momento em que se dizem… 

Podem não acontecer mais momentos. 

E há amores assim … que acontecem sem hora marcada! 

Em que se gosta na medida certa … 

E em que a entrega é desmedida. 

Há momentos assim … tranquilos, sem a ansiedade de outros. 

Sem que seja nulo o desejo de que voltem a acontecer! 

Há amores assim sem os nossos sítios, sem a nossa música … 

Mas é nossa a lua! 

E há uma voz que pede baixinho … “quando vires a lua lembra-te de mim !” 

Há amores assim … feitos de abraços … 

E há momentos assim … 

Em que me permiti ser a outra … 

Que importa... 

...Também já estava farta de mim !!!





quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mortinha por ser infiel ...




Se eu te trair, é porque já não estás meu amor.
Enquanto fores reservo para ti tudo de mim.
Depois não prometo, porque também me quero assim.
E se não estiveres, eu gosto, porque querer não é ter
e eu só tenho, porque espero.
Não te dês , para não nos perdermos
e sermos felizes na carência do demais
que não tivemos e restou.
E se algum dia me recordares, meu amor,
por algo que não aconteceu,
lembra que pelo mesmo motivo, também eu te recordo.
Uma história com final feliz.
Não demos oportunidade ao tédio, ao anular o que de bom aconteceu.
Porque só nos ficamos pelo desejo e isso é acabar bem.
E se eu te trair meu amor, é porque não te tive!
Fiquei só pelo querer e o meu amor será eterno…
nunca a minha fidelidade.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Mortinha pela hora dos risos ...



Não moro em Jaçanã, não tenho o comboio das onze para apanhar. Fico por aqui, com todas as madrugadas que uma noite possa conter, só para mim. Acendo uma vela, num ritual de corpo ausente, como quem espera alguém que partiu ou que simplesmente se limitou a não regressar. As pessoas afastam-se para pensar. Algumas voltam, outras nunca vão voltar. 
Nem sequer estou triste! Por muito respeito que as minhas lágrimas me mereçam, respeito mais o meu riso. 
Não quero ter saudades, nem de mim. Quero-me de sorriso espontâneo e cultivar em mim os melhores sentimentos , temo que só tenha desenvolvido o desinteresse. Queria também perder a memória afectiva, ser amnésica em relação aos afectos. Não acreditar no impossível das palavras, amarrotá-las e lançá-las na imensidão profunda da madrugada. Dar oportunidade à hora dos risos. Madrugada que se preze tem a embriagante hora dos risos, onde tudo flutua ao som daquela musica de eleição que nos faz desejar viver mil anos, que nos faz desejar morrer assim que termina. 
Não moro em Jaçanã, não tenho o comboio das onze para apanhar, não tenho ninguém com o sono em suspenso à minha espera. Tenho palavras para amarrotar, uma vela para acender e a madrugada para me embalar…
 

Mortinha por contar um momento mágico em Aveiro...




Dá-me a travadinha e lá vou eu armada de expectativas e bagagens (mas poucas), com hotel marcado, rumo a Aveiro. Sítio onde não conheço rigorosamente ninguém mas com a sensação absurda de que tenho lá alguém à minha espera. Claro que não tenho nem à chegada nem à despedida. O que é óptimo para quem não gosta de despedidas. Não é o meu caso, adoro despedidas, choro e tudo. É um hábito saloio que me ficou de infância.
Fica sempre bem dizer que Aveiro é lindíssimo. Eu digo. Tem a ria e tem pessoas muito simpáticas.
Como não tinha cicerone e ficar fechada num quarto de hotel não era o objectivo, há que me meter por ruas e ruelas até me perder. Decorei o caminho do Fórum ao hotel, depois bastava perguntar a alguém onde era o Fórum e assunto resolvido. Calho a perguntar a uma senhora, que não só fez questão de me levar lá, como me acompanhou num café. Trocamos telefones e tudo, sabendo que ninguém ia telefonar a ninguém. O que teríamos para dizer? – Eu tenho, ( um pormenor à parte, estou a escrever isto enquanto aguardo o comboio, com uma caneta que roubei, literalmente, no hotel. Resultado está a ficar sem tinta…), só que não sei como (falo da srª), valorizei tanto a atitude que a palavra obrigado não tem significado. Há um gesto ( o raio da caneta continua a falhar) nos jovens, que é bater no peito com a mão fechada, enquanto dizem:-“ Mano, tás aqui…”- É o que me apetece fazer.
Atenção não foi este o momento mágico. Mas como “só” já faltam duas horas para o comboio, tenho muito tempo para falar dele.
Outro péssimo hábito que me ficou sei lá de onde, é nunca querer saber o horário dos comboios de regresso a casa. Depois acontece-me isto, estou numa estação enorme, rigorosamente sozinha. Excepto quando um altifalante anuncia a atenção á passagem de uma circulação sem paragem, na linha numero um. Por acaso até nem foi isto que anunciou, mas sempre me apeteceu registar esta frase.
Vou fazer uma pausa para tomar um café. Não sei bem onde, Aveiro pára aos domingos. Já volto.
Voltei. Faltam trinta minutos para a chegada do dito. Vou contar o meu momento mágico.
Deixo o hotel às nove da manhã sensivelmente, deserta por repor os meus níveis de cafeína no sangue. Já referi que Aveiro pára aos domingos. Tentar tomar um simples café é uma aventura labiríntica.
Lá descubro uma esplanada fantástica e deserta. Escolho uma mesa sob uma árvore. É-me servido o café duplo e sempre escaldado. Acompanho com o meu cigarro “ Black Devil”.

Agora o momento. A manhã estava cinzenta. E de repente, não mais que de repente, surgida do nada, uma figura vestida de preto, começa a tocar violino. O meu instrumento musical preferido. Uma música linda. É de perder a respiração.
Fecho os olhos para não perturbar o momento. Permaneço imóvel enquanto um desconhecido toca só para mim. Tenho de perturbar o momento e fixo os olhos nos olhos que me fixam e ali ficamos, indeterminadamente, numa sintonia muda.
Quebro a magia, eu tenho de lhe dar o pagamento justo pelo serviço prestado. Não é uma esmola. Quando pego na carteira ele vira-me as costas e afasta-se e sem parar de tocar desaparece.
Absorvo aquele momento lindo. Ele o violonista vestido de preto passou a um nível superior, comparável ao livro inverso do menos bom, (esta frase só faz sentido para quem sabe que eu costumo dizer, que até à data ainda não conheci ninguém, que se comparasse sequer a um livro menos bom).
A felicidade é um somatório de momentos felizes. Graças a ele tenho a adicionar mais um momento.
Muito obrigado meu querido! Para ti o meu abraço sólido…

O comboio está quase a chegar. A estação já não está deserta. Eu sim. Sem ninguém para me despedir.
Congratulo-me com o facto dos comboios actuais não terem janelas de abrir, senão, ainda que não tivesse ninguém a quem acenar, já me estou a imaginar debruçada num Adeus interminável e debulhada em lágrimas.
É eu sou assim…, gosto de despedidas. E choro a caminho de casa e em casa, como se tivesse perdido alguém que nunca tive…