quinta-feira, 18 de novembro de 2010

MORTINHA PELO TEMPO QUE HÁ-DE VIR ...



Altero os ponteiros do relógio, aleatoriamente, e engano o tempo. É pela hora alterada que me rejo! Não importa se é manhã e para mim já é tarde. Não importa se é noite e para mim já é amanhã. Por mim seria uma mulher parada num tempo que há-de vir. Enquanto não vem tento não dar por mim. Sei que sou complicada, nem o léxico me define. 
Tenho as mãos macias e a emoção inerte, vou deixando o meu perfume por aqui, por ali e mais além. Respiro o adeus como quem rejeita palavras de amor. Essas reservo-as, sem pressa, para as ouvir murmuradas, só para mim, num tempo que aguardo e há-de vir. Travarei, então, os ponteiros do relógio. 

E a chuva miudinha, num gesto altruísta, dissimula as lágrimas que teimam cair, pelo tempo que se perde à espera do tempo que desenfreadamente vai por aí e num desatino não chega ao tempo que aguardo. O tempo não assina contrato de retorno, não volta para trás. O tempo não tira bilhete de ida e volta, impedindo-me de o deter num passado que está ali, não muito distante daqui... 

Ponho a máscara do dia… gosto de mim depois das dez! Convida-me para jantar, desarruma os meus lençóis de linho, sem promessa de reencontro...

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